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22/08/2020 às 14h37min - Atualizada em 22/08/2020 às 14h41min

COVID-19: Como está o ensino remoto de alunos autistas matriculados em escolas regulares durante a pandemia?

Escola Municipal Walmir de Freitas Monteiro, localizada em Volta Redonda-RJ, é referência em educação inclusiva para autistas e portadores de outras deficiências, sejam elas físicas ou cognitivas

Lucas Mathias - Editado por Caroline Gonçalves
Foto/Divulgação Lucas Mathias
Desde a segunda quinzena de Março de 2020, as aulas nas escolas municipais, estaduais e privadas de todo o Brasil foram suspensas devido à pandemia do novo coronavírus. Dentre as escolas regulares, muitas atendem a alunos autistas. Mas com a pandemia, como está sendo a educação inclusiva desses alunos no ensino remoto? Eles estão tendo o suporte necessário? Para responder essas e outras perguntas, o LAB Dicas de Jornalismo foi até o interior do estado do Rio de Janeiro, em Volta Redonda-RJ, onde a Escola Municipal Walmir de Freitas é referência na cidade em educação inclusiva de alunos portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Em entrevistas ao LAB, Felipe Nóbrega, o diretor da escola, disse que os conteúdos que estão sendo disponibilizados para os alunos ditos “normais” já estão adaptados. Ou seja, para os alunos autistas, esse material está sendo feito de maneira mais adaptada ainda, resultando em pouca quantidade de conteúdo a ser estudado. Entretanto, o diretor da escola afirmou que nos próximos bimestres haverá mudanças.

“Inicialmente, a escola pensou em oferecer duas folhas de atividades para os alunos de currículo adaptado, porém percebemos a necessidade de aumentar esses conteúdos, readequando-os para que nossos alunos de inclusão possam acompanhar os demais.”, completou Felipe.


Entre as maiores dificuldades encontradas pela escola durante o ensino remoto aos autistas, o diretor alegou que é a individualização do ensino, pois cada aluno tem seu tempo de aprendizagem, e isso requer atenção maior dos professores. Felipe esclareceu que para que as dificuldades sejam sanadas, diversas estratégias foram e ainda estão serão criadas pela escola.

“Pensamos em realizar eventos online, solicitamos que os professores pudessem mandar vídeos/áudios de incentivo aos alunos especiais, fortalecemos nossa atuação nas redes sociais, além de muitas ideias que ainda serão colocadas em prática”, concluiu o diretor, que citou também o papel fundamental da participação familiar na execução das atividades escolares.


Ademais, Regina Coeli e Catia Lopes, respectivamente, Supervisora e Orientadora Educacional, alegaram que no inicio da Pandemia elas se reuniram com a equipe pedagógica para esquematizar como seriam as aulas neste período.

“Reunimos-nos de maneira online, junto com os professores e equipe diretiva, e traçamos um plano de ação para que, mesmo com o momento de aulas remotas, o processo de ensino não causasse impactos negativos na vida de nossos alunos atendidos pelas suas especificidades individuais”, argumentaram elas.


Além disso, Regina e Catia declararam que as atividades direcionadas aos autistas são sempre pensadas de maneira que entregue algo lúdico a eles, e quando os alunos enfrentam dificuldades de acesso às aulas online, a escola oferece a entrega de atividades impressas e envio de vídeos ou podcasts de explicação dos conteúdos.

Com as aulas online, foi necessário o apoio dos responsáveis para que os alunos executassem as tarefas com atenção e pudessem aprender mesmo com as dificuldades encontradas. De acordo com Cristiane Guedes, mãe de um aluno autista, a necessidade de acompanhar o filho nas atividades é desgastante, além de ter a sensação de que o filho não está assimilando o conteúdo de modo proveitoso. Entretanto, ela ponderou que a escola em que seu filho estuda dá total suporte para a educação.

“Apesar da plataforma disponibilizada pela prefeitura deixar muito a desejar, na escola do meu filho pude observar que tanto a equipe diretiva, quanto os professores se empenham muito para tentar suprir nossas dificuldades e necessidades inerentes a nossa atual realidade”, finalizou Cristiane.


Demissão das mediadoras na cidade 

Durante as aulas presenciais, os alunos especiais contavam com a ajuda de mediadoras para desenvolver as atividades propostas pelos professores, que entendiam os limites de cada aluno para que ele pudesse está incluso nas atividades sócio comunicativas da escola. Porém, no primeiro semestre de 2020, o prefeito de Volta Redonda, Samuca Silva, demitiu diversos funcionários públicos que prestavam serviços à educação da cidade, entre eles os mediadores. Segundo ele, as demissões foram ocasionadas mediante ao rombo nas contas públicas, causados por conta da pandemia.

Juliana Machado, que era mediadora na escola, contou que não chegou a fazer o trabalho de mediação com os alunos nas aulas online, mas entende que é de extrema importância, pois é necessário que o aluno tenha um auxilio nos conteúdos que são passados através das plataformas da rede municipal. Juliana reintera que esse trabalho é feito junto com a família, e que é fundamental para o aprendizado do aluno. Segundo ela, o desenvolvimento do aluno autista seria melhor caso houvesse o apoio do mediador nas atividades online.

“O aluno tendo o suporte da mediadora, vai evoluir de uma forma mais funcional. Sem a mediadora, o aluno está por conta do familiar, que na maioria das vezes, não são formados para instruir o aluno nas aulas”, esclareceu Juliana.


Para a psicopedagoga Beth Melo, a mediação da aprendizagem online do aluno autista é fundamental para o seu desenvolvimento no contexto educacional. De acordo com ela, uma psicopedagoga precisa conhecer o indivíduo e saber se ele possui condições de receber esse tipo de aula.

“O sujeito precisa ter minimamente pré-requisitos para conseguir ficar diante do computador recebendo informações e conseguindo dar uma devolutiva contextualizada daquilo, e na maioria das vezes não tem”, explicou Beth.

  
Escola Municipal Walmir de Freitas

Escola Municipal Walmir De Freitas Monteiro está localizada no bairro Santa Rita do Zarur, em Volta Redonda, e atende três alunos com TEA, além de estudantes com outras deficiências. Segundo o diretor, a bandeira da escola é a inclusão.

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