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01/05/2019 às 14h18min - Atualizada em 01/05/2019 às 14h18min

Resenha: Diante da Dor dos Outros, de Susan Sontag

Sandra Denicievicz - Editado por: Leonardo Benedito
Divulgação
Quando se pensa em guerra logo vem à mente imagens de pessoas mutiladas, lágrimas, corpos destruídos, rostos marcados por traumas, possivelmente, insuperáveis. Tais cenas contém a capacidade de chocar os outros, ou será que essa eficácia das fotos foi perdida? Esse é o principal questionamento do livro "Diante da Dor dos Outros". Como as pesooas expostas a essas imagens agem? Será que há comoção? Ou alívio por não serem o personagem daquelas histórias flageladas pelo sofrimento?

O livro de Susan Sotang, crítica social e ativista norte-americana, conta com nove tópicos sem títulos nem sumário. Durante todos eles, a autora aborda o sofrimento humano. Para refletir sobre o papel e como a fotografia é tratada na guerra, a autora usa exemplos que vão desde a pintura de Goya “Tampoco” estampada na capa do livro, passando pelas imagens produzidas na Guerra Civil Americana, Primeira Guerra Mundial, Guerra Civil Espanhola, campos de concentração nazistas até o atentado ao World Trade Center em setembro de 2001. 

A exposição massiva da mídia em relação às cenas violentas e de sofrimento torna-se terra fértil para criar uma espécie de apatia à essas imagens, como se fosse algo rotineiro, em que o olhar é acostumado a tais recorrências. Caso o cenário não agrade sempre há a possibilidade de mudar o canal ou desligar a televisão, optando por não se envolver emocionalmente com o fato. Assim, as pessoas sentem-se seguras e, consequentemente, indiferentes. 

 
Apesar disso, o ser humano sente atração pelo sofrimento. Não que o olhar seja exatamente de sensibilidade ou humanidade, mas é algo mais ligado a curiosidade e alívio, como se fosse um deleite para os olhos e a mente perceber a dor do vizinho, do colega ou mesmo de um desconhecido, seja aqui ou do outro lado do mundo, a dor menos doída é sempre a do próximo.

O livro não possui uma leitura linear, porém, com linguagem cheia de sensibilidade, a autora pondera que as imagens podem ser usadas como simples objetos de contemplação, como também de advertências, com a função de aprofundar a realidade de uma pessoa. Para Sotang, o ideal é que as fotografias se concentrem em livros onde ficam melhor guardadas na memória do espectador.

Esse é um prato cheio para aqueles que apreciam debates contemporâneos. O livro desperta vários questionamentos, mais do que oferece respostas. Devido à natureza das questões que levanta, sem dúvida, permanecerá guardado por muito tempo na memória de quem o ler.

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