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22/01/2021 às 16h47min - Atualizada em 22/01/2021 às 16h35min

Venda de animais silvestres como pets pode incentivar tráfico?

De acordo com a entidade World Animal Protection, no Brasil existem 573 criadouros comerciais e lojas que vendem animais silvestres como pets

Larissa Campos - Editado por Camilla Soares
Arara azul atrás de uma cerca - Imagem: Mylene2401/Pixabay
O comércio de animais silvestres como bichos de estimação é uma modalidade muito difundida no território brasileiro. O hábito de criar esses animais como pets remonta à antiguidade, na qual índios e europeus mesclaram esse costume desde o início do século XVI. No entanto, nos dias atuais, o mercado de animais silvestres em cativeiro pode servir como incentivo à uma prática cada vez mais frequente no Brasil: o tráfico de fauna silvestre.

De acordo com a entidade World Animal Protection, no Brasil existem 573 criadouros comerciais e lojas que vendem animais silvestres como bichos de estimação. De todas as espécies, os brasileiros possuem predileção pelas aves. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 6 de 2013, estudo de base domiciliar e abrangência nacional realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que 37.937.619 de aves são mantidas nas casas dos brasileiros.

Samuel de Oliveira Nunes, coordenador de Comunicação da entidade Mata Ciliar, explica que a venda de animais silvestres como pets pode de fato incentivar o tráfico dessas espécies, na medida em que há um estímulo a ideia de que possuir um animal selvagem ou exótico é “legal” e irá te diferenciar das demais pessoas, causando um aumento na demanda desse mercado.
 

“Nessa nova demanda pessoas com recursos recorrem ao ‘comércio legal’ e as que não tem poder aquisitivo tendem a comprar animais ilegais, o que estimula a caça e o tráfico”, afirma.


Segundo Samuel, a média de animais oriundos de posse ilegal, na qual a pessoa não possui o registro do animal, mais que dobrou nos últimos três anos. Em 2018, a Mata Ciliar recebeu 658 animais, contra 711 em 2019 e 1345 em 2020.

O biólogo César Favacho ressalta ainda para os problemas relacionados ao desequilíbrio ambiental, no qual espécies podem ter suas populações muito diminuídas ou extinguidas, e também questões de saúde pública. “O comércio ilegal pode trazer riscos sim, já que os animais são coletados diretamente da natureza, sem nenhum conhecimento de possíveis doenças que carregam, ou seu estado de saúde. Dessa maneira, podem colocar em risco tanto os humanos, quanto outros animais domésticos que possam vir a entrar em contato”, declara.

Além disso, César comenta que, ao efetuar a compra de um animal em cativeiro legal, se a instrução sobre o manejo não for feita ou for ensinada de maneira incorreta, os "donos" podem acabar causando doenças ou outros problemas aos animais, o que pode até mesmo ser denunciado como maus tratos, dependendo do caso. Somado a isso, alguns animais necessitam de ambiente e alimentação específicos, o que pode ser custoso e, muitas vezes, as pessoas que adquirem o animal em âmbito ilegal não possuem conhecimento ou recursos para garantir esse ambiente adequado.

Fiscalização

Uma pesquisa feita pela World Animal Protection indicou que apenas 1% do orçamento destinado à fiscalização pelo Ibama foi aplicado em ações voltadas à fauna silvestre entre 2010 e 2015. Somado a isso, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021, que ainda será analisado pelo Congresso, tem a menor proposta de orçamento desde 2000 para o Ministério do Meio Ambiente. O governo propõe uma redução de 27,4% do orçamento destinado para fiscalização ambiental e combate de incêndios florestais em comparação com 2020.

Para Samuel de Oliveira Nunes, a estrutura para fiscalização está muito longe do necessário para dar conta da demanda, já que por mais que sejam feitas muitas apreensões, ainda há um grande número de animais sendo vendidos de forma ilegal. “Paralelamente, outra questão que aprofunda drasticamente o problema é a falta de punição para os caçadores, traficantes e comerciantes ilegais de animais silvestres, já que a pena é muito branda e estimula a reincidência no crime. As mesmas pessoas são apreendidas frequentemente cometendo o mesmo crime pois não ficam presas e não pagam multa”, explica.

Já para César Favacho, além da fiscalização correta, é necessário que existam mais programas de educação ambiental em escolas voltados a explicar o motivo de não podermos ter todos os animais como pets e a importância de não contribuir para o tráfico de fauna silvestre.

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