Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
17/04/2021 às 02h46min - Atualizada em 17/04/2021 às 02h32min

O Massacre de Columbine e a flexibilização da posse de armas no Brasil

Lorena Lemos - Revisado por Mário Cypriano
Columbine High School - Imagem: Fox News
Era manhã do dia 20 de abril de 1999, quando os alunos Eric Harris e Dylan Klebold abriram fogo na Columbine High School, localizada em Jefferson County, no Colorado, Estados Unidos. No total, foram 15 mortos: 12 alunos, 01 professor e os 02 adolescentes que cometeram suicídio após o crime, Eric com um tiro na boca e Dylan com um tiro na cabeça. Eles tinham 18 e 17 anos, respectivamente.

Mesmo após 22 anos, o verdadeiro motivo para o atentado nunca foi esclarecido. Ao mesmo tempo em que se especula que os autores eram vítimas de bullying, também são apontadas algumas controvérsias. Os depoimentos de alguns colegas relatavam que Eric era extrovertido e saía com várias garotas, já o Dylan era mais reservado, mas isso não atrapalhou a ida ao baile de formatura com uma colega dois dias antes do massacre.

 

Apesar de serem considerados alunos com uma inteligência fora do comum e terem ótimas notas, Eric e Dylan não se encaixavam nos grupos de estudantes, sendo considerados antissociais, o que levou a um sério desvio de conduta. Em 1997, a dupla começou a praticar atos de vandalismo, principalmente com os atletas de futebol americano da escola, pois constantemente eram alvos de piadas desses jogadores. Esses atos resultaram em suspensão da escola. Em 1998, foram presos por invadirem uma van e roubarem alguns equipamentos eletrônicos, tendo que prestar serviços comunitários supervisionados para pagar a pena.

Mais tarde, cinco anos após o desastre, o FBI e vários psiquiatras divulgaram um artigo, chegando à conclusão de que Eric era um psicopata e Dylan era depressivo. Mas, qual a relação do Massacre de Columbine com a recente flexibilização da posse de armas no Brasil?

 

O decreto das armas

 
Na época, muitos meios de comunicação discutiram sobre a facilidade que Eric e Dylan tiveram para adquirir as armas e as munições. Afinal, não é novidade que os Estados Unidos sempre romantizaram o armamento como forma de legítima defesa e proteção, estimulando, na maioria das vezes, a posse desde a infância, como ‘‘regra de sobrevivência’’.
 
Depois do massacre, foram feitos vários pedidos para enrijecer as medidas no controle de armas. Em 2000, entrou em vigor uma legislação federal e estadual que exigia fechaduras de segurança nas armas de fogo, além de proibir a importação de cartuchos de munição de alta capacidade. O ato de comprar armas para criminosos e menores de idade também foi criminalizado.

Mesmo após essas medidas, os Estados Unidos não possuem os melhores números relacionados às mortes por arma de fogo. De acordo com o portal Super Interessante, em dezembro de 2018 um estudo revelou que a taxa de mortes por arma de fogo havia aumentado pelo terceiro ano consecutivo: 12 mortes a cada 100 mil habitantes, algo que não acontecia no país há mais de vinte anos.

Em janeiro de 2019, outro estudo divulgado pelo mesmo site dizia que o Brasil liderava o ranking como o país com o maior número de mortes por armas de fogo no mundo. Somando o número de homicídios e suicídios do tipo com os dados dos Estados Unidos, os dois países representavam 32% do total mundial.

Curiosamente no mesmo ano, o presidente da república Jair Bolsonaro decretou algumas mudanças para facilitar o porte de armas. O decreto teve vários trechos suspensos pela ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber. Entre eles, o aumento do limite para compra de 04 para até 06 armas de fogo de uso permitido por pessoa, e até 08 armas por agentes estatais com simples declaração de necessidade; prática de tiro desportivo por adolescentes a partir dos 14 anos de idade e a possibilidade de substituição do laudo de capacidade técnica – exigido pela legislação para colecionadores, atiradores e caçadores – por um atestado emitido por clubes de tiro para a obtenção de armas.
 

Após essas mudanças, o veredito sobre a proposta de Bolsonaro ocorreria em sessão virtual pelo Plenário do Supremo na sexta-feira passada (16). Entretanto, O STF suspendeu o julgamento sobre a suspensão dos trechos, pois o ministro Alexandre de Moraes pediu vista no processo. Sobre sua decisão individual, a ministra Rosa Weber afirmou que “a livre circulação de cidadãos armados, carregando consigo múltiplas armas de fogo,” atenta contra o direito constitucional de todos  se reunirem em locais abertos e públicos, pacificamente e sem armas.

Dados os fatos e estatísticas, o contexto histórico deve ser levado em conta, no que diz respeito à flexibilização da posse de armas no Brasil, pois além do Massacre de Columbine, não podemos nos esquecer do Massacre de Suzano, ocorrido em março de 2019, um mês antes do trágico evento de Columbine completar 20 anos.

Em Suzano, São Paulo, na Escola Professor Raul Brasil, a dupla de ex-alunos Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, mataram 05 estudantes e 02 funcionárias da escola. No fim, um dos atiradores matou o companheiro e cometeu suicídio. Guilherme tinha 17 anos, Luiz Henrique, 25.

 

De acordo com as investigações, a motivação do crime seria vingança pelo bullying sofrido na escola, isolamento social e o mais chocante: superar o massacre de Columbine. Eles queriam ser lembrados pela quantidade de mortes e armas. Vale destacar que o revólver e as munições usadas no massacre de Suzano foram adquiridas pela dupla de maneira ilegal, a partir de quatro fornecedores. Todos foram presos.
 
 
Sugestão de documentário
"Tiros em Columbine" - Retrata a cultura do armamento nos EUA, relacionando ao Massacre de Columbine.


Sugestão de livro
"Columbine" - Seu autor, o jornalista Dave Cullen, cobriu como repórter o massacre da escola de ensino médio Columbine, no Colorado. Cullen mergulhou no assunto por uma década para escrever aquele que é considerado o mais amplo estudo sobre o caso, baseado em mais de 25 mil páginas de registros policiais.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »