Desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil, o cenário da educação foi um dos mais afetados, o que deixou explícito as condições que estavam sendo ‘encobertos’ ao longo dos anos. As aulas que antes eram, em sua maioria, apenas presenciais, passaram a ser totalmente remotas. Com isso, a falta de conhecimento da tecnologia, o acesso precário, o desinteresse por parte dos alunos e o desgaste foram alguns dos pontos destacados na nova jornada.
Em um curto momento, as plataformas digitais se fizeram presente no dia a dia da escolaridade brasileira. Aqueles que não tinham recursos tecnológicos, precisaram se adaptar de alguma maneira. As escolas ainda buscam alternativas para a inclusão dos docentes e alunos, e passam por um processo de adequação, com o intuito de dar conta da demanda exigida.
No estado de São Paulo, as aulas da rede estadual foram adaptadas para serem transmitidas através do Centro de Mídias de SP e TV Cultura. Os materiais são direcionados aos alunos do ensino básico. Os professores trabalham com base nas transmissões do estado, seja nas gravações de conteúdos, encontros online e atividades. Já na rede municipal de SP, os alunos recebem os materiais via correio e aqueles que apresentam condições tecnológicas, têm acesso à plataforma do google classroom.
A adaptação no estado Paraná teve grandes semelhanças com São Paulo. As aulas dos colégios estaduais são transmitidas via aplicativo e televisão aberta vinculada à RIC TV, no programa Aula Paraná. Separados em três canais diferentes, o programa atende o ensino fundamental II e o ensino médio. Dessa forma, as atividades, vídeo-aulas e encontros ao vivo realizados pelos professores, reforçam o que é passado pelo Estado. Os alunos também foram inseridos à plataforma do google classroom, onde os materiais produzidos pelos docentes são publicados.
Em uma escola estadual da cidade de Santa Isabel-SP, a docente Alice Kogake, que trabalha com o ensino fundamental II, relata que houve um auxílio pelo próprio governo de São Paulo aos alunos. “O governo entregou chips com internet gratuita, e logo ao entrar na plataforma do Centro de Mídias de SP, o acesso à internet também não tem custo”, conclui.
Com isso, os alunos que não têm e nem recebem recursos tecnológicos para assistir às aulas, dependem dos pais com os aparelhos eletrônicos para acompanhar o conteúdo. Porém, na maioria dos casos, os responsáveis pelas crianças passam o dia no trabalho, e somente quando chegam em casa conseguem auxiliar o filho nos afazeres escolares. “O atendimento aos pais foi complicado, pois não havia sido estabelecido horário para tirar as dúvidas de seu filho ou do material enviado”, diz Carla Aparecida Antunes, professora da Escola Municipal Doutor Raul Pinheiro Machado, em Ponta Grossa.
Os mesmos problemas ocorreram com demais professores. Por saberem das condições que os alunos apresentam, eles atendem às questões dos responsáveis em momentos que não condizem com o horário de trabalho. “Realizei, por conta própria, atendimentos para algumas mães no período da noite, sábados e domingos, fora da minha carga horária”, afirma a docente Adriana Wallis Garbosa, da Escola Municipal Professora Ruth Holzmann Ribas, em PG.
Mara Cristina destaca também o desinteresse dos estudantes no estado de São Paulo. “Quando chegou o final do ano, a escola ainda estava a buscar os alunos, e que mesmo com o contato, se mostraram alheios ao estudo”, conta. Com isso, os professores apresentaram grandes dificuldades de compreender e acompanhar a rotina estudantil dos alunos.
Nas escolas particulares, de ambos os estados, a realidade foi diferente. O que se assemelha aos colégios municipais e estaduais é a carga de trabalho dobrada que os professores tiveram. Entretanto, os alunos tiveram dificuldades menores de adaptação, devido aos recursos que já apresentavam. Porém, as instituições também precisaram buscar alternativas para incluir os estudantes que não tinham acesso à internet.
Andreia Wolinski, que também trabalha em um colégio particular em Ponta Grossa, voltado aos pré-vestibulandos, o Sepam, afirma que apesar dos contratempos impostos pela pandemia, a instituição apresentou apoio aos seus alunos e docentes. “Por ser escola particular e contar com uma boa estrutura, a situação foi encarada de maneira mais tranquila, o que buscou estimular o interesse dos estudantes, juntamente dos professores”, destaca a professora.
A professora da rede privada, Ana Léa Garcia, que atua com a educação infantil em Lorena-SP, afirma que a instituição tem como compromisso o bem estar da criança. “A Avaliação [...] tem entre suas finalidades o acompanhamento e o registro do desenvolvimento da criança, por meio das ações individuais, coletivas e colaborativas”, revela. Ana Léa também aponta que os alunos, em sua maioria, são participativos nas aulas, mas há casos daqueles que não frequentam o ensino remoto.
Apesar da carga de trabalho dobrada dos professores, os diretores veem o trabalho dos mesmos de alto desempenho. “Aos poucos, foi possível superar os desafios do momento e do novo modelo de trabalho para eles, com grande aprendizado”, afirma o diretor do Colégio Sepam em PG, Osni Mongruel Junior.
Todavia, como revela a orientadora educacional do Colégio Adventista de Artur Nogueira, em SP, Luciana Araújo, há também um grande desgaste psicológico por parte dos orientadores e diretores. “Com o trabalho remoto, você não tem apenas a carga horária que apresentava no ensino presencial”, relata. Luciana ressalta a necessidade de estar sempre conectada para conseguir responder os pais e professores.
FOTO: MARCELE GARCIA BERTELLI
Com relação à volta do ensino síncrono e totalmente presencial em cidades dos estados de São Paulo e do Paraná, há uma semelhança nas opiniões dos profissionais de educação. Para Osni, as aulas devem voltar sob a condição de segurança sanitária aos alunos, professores e funcionários da escola. “A educação no Brasil precisa ser encarada como essencial, e devido ao número de infectados na faixa etária da educação básica ser o menor, acredito que o retorno é possível”, aponta.
Entretanto, para outros, o retorno só deve ocorrer em um momento mais seguro. Como a educação básica envolve crianças, há uma dificuldade de compreensão por parte deles para seguir os protocolos de segurança, o que aumenta a chance de contágio. “No pouco tempo de experiência com o ensino híbrido, percebi que os alunos voltaram com as expectativas de que já estaria como o que era antes, o que gerou uma resistência para seguir as recomendações impostas a eles”, destaca a professora Adriana Garbosa. Dessa maneira, a docente afirma preferir a volta das aulas presenciais somente após a vacinação.
Atualmente no município de Ponta Grossa, no Paraná, as aulas das redes municipais e estaduais permanecem totalmente online, seguindo os programas e adaptações que foram realizados durante o ano de 2020. Já a rede privada, conta com o ensino híbrido, de forma gradativa com as turmas e alunos. Na capital de São Paulo, a rede privada retornou com as aulas presencialmente, e nas escolas estaduais e municipais de forma híbrida, porém em algumas cidades, como Artur Nogueira, citado acima, continuam no ensino remoto.