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03/11/2021 às 19h59min - Atualizada em 03/11/2021 às 15h51min

A religião como influência em periferias interioranas

Como as crenças e tradições podem persuadir a convivência de pessoas no interior

Samara Letícia - labdicasjornalismo.com
Samara Letícia
 
A religião é um movimento cultural ligado à rotina de cidadãos nas mais diversas localizações, influenciando seus hábitos, pensamentos e ações. Contudo, a conduta de fé, oferece uma persuasão distinta em periferias interioranas. Isso se deve a maior frequência de eventos e manifestações religiosas, em vista disto, são mais incisivas e por vezes, mescladas com outras crenças. Dessa forma, o valimento religioso interfere nos relacionamentos comunitários e modifica a percepção do indivíduo em sociedade.

Primeiramente, é necessário o entendimento de que a vivência conduzida em periferias interioranas é distinta daquela vivida em centros urbanos. Nos interiores, é comum o conhecimento passado por oratória, além de uma consciência coletiva que permite a continuidade frequente de práticas religiosas tradicionais. Do mesmo modo que os costumes têm considerável persuasão na influência das crenças, também tem o diminuto acesso à educação em interiores e áreas rurais. De acordo com dados do INEP (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa), em 2018, cerca de 31,7% das matrículas escolares foram em áreas rurais. Devido ao contato limitado com o conhecimento acadêmico, a religião passa a ser a maior fonte de entendimento e acalento. Dessa maneira, o credo estabelecido é uma determinante institucionalização para argumentações de todas as áreas, não somente espirituais, mas políticas e comunitárias.

Desde as crenças mais populares às manifestações mais sagradas, os ambientes adjacentes às cidades potencializam a propagação da dita fé hereditária. De acordo com André Henrique, estudante de Ciências Sociais da UFS (Universidade Federal de Sergipe) esse modo de disseminação diz respeito à maneira de educar, conviver e se portar pautada em determinada prática doutrinária, passada por convivência familiar e coletiva. Este é um costume que molda o comportamento e a maneira de percepção de um indivíduo quanto a sua presença em comunidade.

Esta fé, propagada de pai para filho, foi a realidade de Renata Lemos, atendente de telemarketing de 43 anos, nascida e criada no interior de Limoeiro do Norte, no Ceará. Segundo ela, toda a cidade se mobilizava para os eventos de seus padroeiros, se unindo em comemorações e andanças. Antes mesmo que ela pudesse entender o significado das festas, sua mãe a levava, para ter certeza de que sua filha estaria nos caminhos, considerados por ela, corretos. Com isto, percebe-se que as dimensões dos preceitos sociais são configuradas pela religião que é, antes de tudo, a marca de uma população.
 
 
                                                                      
 Foto: Samara Letícia




   
                           Foto: Samara Letícia                         
                                             


Esta afirmação pode ser analisada a partir da população de Zaloque, em São Cristóvão (SE), que por vivenciar o Candomblé e o Catolicismo simultaneamente, o seu corpo social desenvolveu costumes de ambas as religiões. Nesta região, há participação da população em eventos festivos nos terreiros, como também comparecimento nas missas de domingo. Com isto, é possível o entendimento do preceito de que religião e fé são conceitos distintos, mas determinantes para inclusão social e formação de caráter. Independente da fé distinta, o respeito e a mesclagem de religiões permitiram uma diminuição considerável da intolerância cultural contra as convenções afro descendentes na região. Segundo Aloísio Cardoso, instrutor de autoescola, morador da região, desde de muito cedo seu contato com religiões cristãs e de matriz africana lhe permitiu uma visão ampla de mundo, unido a sensação de empatia com as crenças das diversas pessoas que conheceu.

A mesclagem religiosa não é marca somente de Zaloque, nascida em Olhos D’Água- SE, Maria Mendonça, aposentada de 74 anos, foi criada por sua prima que frequentava o Espiritismo e o Catolicismo. Segundo ela, a prima procurava o que iria lhe reconfortar e incentivava a ela e seus filhos fazerem o mesmo.
Desse mesmo modo, no povoado Riacho Grande- SE, a influência da religião demonstrava grande impacto da na vida de seus moradores, que independentemente de crenças, participavam de comemorações.  Para empregada doméstica de 48 anos, Elisângela da Silva, que cresceu e viveu no povoado, a participação do cristianismo foi fundamental para a formação de seu caráter, sendo evangélico ou católico. Em suas palavras: “Minha mãe era evangélica, mas a gente também ia para a festas e comemorações católicas, sempre! Era a cidade toda, nas romarias e nas procissões”.  Demonstrando dessa forma, que a influência de práticas religiosas é persuasiva, especialmente nos interiores, onde sua essência é ainda mais pura.
 
 

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