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15/03/2023 às 01h38min - Atualizada em 15/03/2023 às 01h12min

Ex-jogadores do Palmeiras caem em suposto esquema de Pirâmide financeira

Scarpa e Mayke movem processo contra empresas de criptoativos por estelionato; apesar da acusação de envolvimento, Willian, que indicou essas empresas, também se diz vítima e afirma ter um prejuízo de 17,5 milhões

Ellen Cútolo - labdicasjornalismo.com
Mayke e Scarpa, envolvidos no caso da pirâmide financeira | Foto: Cesar Greco/Palmeiras/ O Globo
“Burro” e “triste”. É assim que o ex-meio campista do Palmeiras, Gustavo Scarpa afirma se sentir ao se lembrar de seu amigo e ex-companheiro de clube, Willian Bigode, diante de um possível crime de estelionato. Os R$ 6,3 milhões  investidos na empresa de criptoativos, Xland -- por indicação da empresa de consultoria da qual Willian é sócio, a WLJC -- deixaram as celebrações dos vestiários alviverdes e chegaram até à Polícia e à Justiça, colocando em cheque a credibilidade e a amizade entre os colegas.

Além do Scarpa, o lateral palmeirense Mayke também investiu cerca de R$ 4 milhões, mas processou apenas a WLJC e não diretamente os sócios. Outro jogador envolvido é o goleiro Weverton, que, até então, não iniciou nenhum processo na justiça e tem uma postura mais discreta diante do fato.  Os processos envolvendo Scarpa e Mayke estão em trâmite na 10ª e 14ª Vara Civil do Foro Central da Comarca de São Paulo, respectivamente.

O pedido de bloqueio de R$ 13 milhões da Justiça de São Paulo nas contas dos donos da Xland, Gabriel Nascimento e Jean Ribeiro, se deparou com apenas cerca de R$80 mil. Segundo o delegado que está à frente do caso, Glaucius Vinicius, em entrevista ao Fantástico, neste domingo (12), os jogadores apresentaram provas que sustentam as suas acusações e apontam para um possível crime de estelionato.  

Já o atacante, atualmente no Fluminense, por meio do seu advogado, nota oficial da empresa e manifestações públicas nas redes sociais, se defendeu dizendo que nenhum valor passou pela sua empresa e que também é vítima, uma vez que investiu R$17,5 milhões do seu próprio patrimônio. A sua sócia, Camila, também contou ter investido R$ 1,6 milhão. Segundo reportado pelo Fantástico, a Xland Holding tem uma filial na cidade de Rio Branco, no Acre, e diz estar “autorizada juridicamente a realizar operações de compra, venda, troca e recebimento no mercado digital de criptoativos”.

A história parece ter se construído inicialmente a partir de um nome: Marçal Siqueira, um coach de desenvolvimento humano e financeiro que tinha parceira com a Xland e participava constantemente das reuniões empresariais. Já palestrou para muitos jogadores e foi mentor de Bigode. Teria sido através de Marçal que Willian conheceu a Xland e iniciou a parceria, indicando-a pessoalmente para seus colegas de clube como um bom investimento.

Scarpa e Mayke assinaram um contrato em maio de 2022 que oferecia cerca de 3% a 5% de lucro ao mês, mas diante da insegurança 
o meio campista começou a desconfiar e pressionar os sócios. Scarpa temia que as garantias -- como R$1 bilhão em pedras de alexandrita, segundo Gabriel, considerado o terceiro metal mais precioso do mundo --  e o próprio patrimônio empresarial não se convertessem em algo real. Por isso,  começou a desconfiar e pressionar os sócios. Especialistas alertam para qualquer tipo de investimento que prometam juros acima do mercado e que tenha como garantias outros bens que não em liquidez, ou seja, dinheiro. 

Foi em agosto que a tentativa de rescindir o contrato pela suspeita de estar em um possível golpe começou. “Eles estão de sacanagem”, foi o que disse  Scarpa. Isso após ver o depósito do que deveria ser uma parte do seu rendimento no valor de R$1.200,00 em conta bancária depois de muita cobrança à empresa em novembro do ano passado. Scarpa constantemente recebia desculpas e justificativas por parte dos sócios; em uma altura da situação, até resolveu pedir para que o Marçal intermediasse as cobranças com os donos da Xland. “Sem esperança”, depois de tentativas sem retornos, Siqueira pergunta ao Scarpa se ele tem contato com a Polícia Federal e que seria melhor mesmo pedir o fechamento de fronteiras. 

Antes de registrar o Boletim de Ocorrência em novembro contra o Bigode, Scarpa entrou em contato diretamente com o colega para compartilhar como estava se sentindo e tentar alguma solução: “pelo respeito, amizade, consideração e amor que eu tenho por você, queria te dar um toque antes. Infelizmente vou ter que falar da sua empresa". Em meio aos áudios disponibilizados, o jogador, que atualmente está na Inglaterra, disse que via as pessoas que caíam em pirâmide como burras, então era horrível se ver nessa situação. Em outra conversa, Willian diz não saber mais o que fazer e que está desesperado, uma vez que também investiu sem conseguir resgate desde novembro. Em uma das suas explicações e conversa com o Scarpa, disse que a WLJC trabalhou em parceria com a Xland por questões de confiança, pois até então as experiências não apontavam qualquer tipo de problema e, por isso, a indicação. 

Imagem: Story de Scarpa comentando sobre o caso, ontem, (14), no Instagram pessoal

Defesa da Xland

Os sócios da empresa das moedas digitais se declaram vítimas tanto quanto a WLJC e os seus clientes, afinal, todo capital era investido na empresa FTX Arena. Esta era a segunda maior corretora de investimento do mundo que faliu em 2022, e que estavam na tratativa de resolver e amparar seus clientes por meio da lista da recuperação judicial e também do resgate dos bens de garantia da própria empresa. Perguntado pelo repórter do Fantástico se teria algum contrato ou documento que comprovasse que esse investimento foi aplicado na FTX, o dono diz que sim e que estaria disposto a mostrar como prova. Entretanto, os documentos não foram enviados, justificando, posteriormente, que feria a lei de proteção de dados e que seriam disponibilizados diretamente a cada cliente e às autoridades. A filial fica em Rio Branco, no Acre, e já estava sob investigação do Ministério Público do Estado por suspeita de pirâmide financeira e ainda tem mais outros três processos movidos na Justiça de clientes que alegam ter sofrido algum tipo de golpe - um deles, acusa prejuízo no valor de cerca de R$20 milhões. 

Como o Willian entraria nessa história?

Apesar do direito de defesa por parte de Willian e da sua empresa, algumas argumentações pela parte autora é de que haja responsabilidade solidária. Isso significaria que, ainda que Bigode ou a WJLC não tenha culpa diretamente, eles solidariamente poderiam arcar com as consequências do dano causado em razão da intermediação entre os atletas e a X. Entretanto, o atacante diz que sua empresa não recebeu nenhum valor de comissão e todo valor pago foi passado dos jogadores diretamente para a Xland, tendo sido apenas uma indicação. De acordo com o G1, a empresa WLJC é de 2019 e não está registrada em nenhum órgão regulatório do mercado financeiro. 
 

Vídeo gravado pelo Willian se defendendo. Vídeo: Reprodução / ESPN

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