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05/06/2020 às 11h33min - Atualizada em 05/06/2020 às 11h07min

Afinal, quem tem lugar de fala no caso George Floyd?

"Opiniões vazias sobre questões tão sérias, por si só, podem até não matar, mas com certeza ajudam a apertar o gatilho ou pulam o cadáver no chão". (Djamila Ribeiro)

Letícia Franck - Editado por Bruna Araújo
Pixabay
Me peguei pensando dia desses, ao ouvir uma mulher negra comentar sobre como nós, brancos, nos posicionarmos a respeito do caso George Floyd e o racismo enraizado na sociedade. Em um primeiro momento, fiquei reflexiva a respeito de sua colocação, mas não durou muito, já que para mim, não fez tanto sentido depois de pensar que, enquanto brancos, trouxemos a discriminação ao povo negro. O racismo existe porque nós o criamos, e enquanto criadores da raiz, devemos começar a cortá-la, diariamente, até que não viva mais.

O fato é que falas como esta não só desmoralizam o movimento, como não agregam pessoas -ainda que brancas- a se unirem em busca de uma sociedade -e um mundo- mais igual para todos. Não sofro racismo. Nunca sofri. A cor da minha pele facilita, de fato, que não atravessem a rua quando me veem e isso me dói só em escrever, ainda assim. Enquanto meus amigos negros sofrerem, a dor também lateja em meu peito. Quando me refiro à essa luta antirracista, me coloco à disposição das pessoas pretas que têm a cor da pele como tudo o que elas são e por isso a discriminação acontece: por serem. 

Eu entendo todos os comentários de negros a respeito de brancos se posicionando a favor do movimento, mas não concordo. E não sou conivente exatamente por saber que muito podemos fazer mesmo não vivendo isso. Se não é necessário ser LGBTQI+ para apoiar na luta por direitos igualitários para essa população, então por que eu preciso ter a pele preta para não querer que meus amigos sejam mortos simplesmente pela cor? Tem sentido para você? Não, né? Então por que ainda batemos nessa tecla? Por que forçamos algo a ser o que não é? São pensamentos como este que desmotivam as lutas. Não são as pessoas que querem mudar algo em prol do outro. Talvez seja o outro que não queira se convencer de que juntos somos mais e mais fortes. 

Enquanto mulher branca, cis, que ama e vive com outra mulher branca e cis, não consigo deixar de achar incrível quem luta pelo nosso amor, ainda que não viva um relacionamento lésbico. Você consegue entender por que então existem tantas pessoas negras que simplesmente não deixam com que os brancos possam tentar ao menos mudar o pensamento das pessoas próximas a eles? É necessário compreender para respeitar. É primordial o conhecimento. Mas o ódio disfarçado de luta continua desprezível. 

Até quando? 
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