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12/04/2021 às 13h42min - Atualizada em 12/04/2021 às 13h16min

Agnaldo Timóteo: a voz brega mais romântica do Brasil

Com canções de amor e sem enrolação na política, o cantor conquistou o Brasil e fez história na música brasileira

Lucas Kelly - revisado por Jonathan Rosa
Agnaldo Timóteo antes do ensaio para o show de 50 anos de carreira (Foto: Reprodução / Creative Commons)

No dia 3 de abril, a música brasileira teve uma grande perda, o cantor, compositor e ex-deputado federal Agnaldo Timóteo, faleceu devido a complicações causadas pela Covid-19. Ele estava internado no Hospital Casa São Bernardo localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro desde 17 de março.

A família do cantor divulgou uma nota à imprensa relatando a perda: “É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do nosso querido e amado Agnaldo Timóteo. Agnaldo Timóteo não resistiu as complicações decorrentes do COVID-19 e faleceu hoje às 10:45 horas. Temos a convicção que Timóteo deu o seu melhor para vencer essa batalha e a venceu!”.

De origem pobre, Agnaldo Timóteo nasceu em Caratinga, município de Minas Gerais, no dia 16 de outubro de 1936. Na juventude, Timóteo costumava se apresentar em circos itinerantes que chegavam a sua localidade e em programas de calouro na rádio.

Em 1960, ao se mudar para o Rio de Janeiro, Agnaldo começou a participar do Jovem Guarda, programa musical de TV comandado por três cantores que estavam em ascensão no país: Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos.

Surge um astro”, estreado em 1965, foi o primeiro álbum de Timóteo. Composto por doze canções, a obra tornou-se um sucesso por apresentar hits internacionais em versões traduzidas para língua portuguesa. No entanto, Agnaldo Timóteo ganhou fama ao gravar em seu álbum “Obrigado, querida”, a canção de Roberto Carlos, “Meu grito” em 1967. A voz romântica que marcou o Brasil gravou mais de 50 discos durante sua carreira. “A galeria do amor”“Verdes Campos da minha terra”, “Eu, pecador” estão entre os maiores sucessos do cantor.

Além disso, sua parceria com Ângela Maria, de quem era motorista antes da vida musical, trouxe grande visibilidade a Timóteo. Ela foi responsável por convencê-lo a se direcionar ao Rio de Janeiro para começar uma nova fase com sua voz. Cabe destacar que duas semanas antes de ser internado, ele havia iniciado as gravações de um álbum com sete canções da cantora, que seria um tributo a sua trajetória musical.

Popularizado na década de 70, o brega é caracterizado por canções com um forte apelo emocional e declarações românticas exageradas em rimas fáceis de serem memorizadas. Além disso, essa tendência musical possui a simplicidade em seus arranjos e músicas com curta duração.

Para muitos, o brega constituía um gênero musical associado aos habitantes de regiões periféricas do país. Artistas de classes mais populares foram responsáveis por fazer o gênero existir e resistir no cenário musical brasileiro. Segundo a “Enciclopédia da música brasileira”, o brega é a “música mais banal, óbvia, direta, sentimental e rotineira possível, que não foge ao uso sem criatividade de clichês musicais”.

Agnaldo se orgulhava de ser um dos maiores representantes do gênero no país. Assim como Reginaldo Rossi (1943–2013) e Waldick Soriano (1933–2008), Timóteo permitiu que o brega se consolidasse na história da música no Brasil.

Na política, Agnaldo também construiu sua trajetória. O início ocorreu em 1982 quando se tornou deputado federal com mais de meio milhão de votos no Rio de Janeiro pelo PDT. Em 1986, disputou a eleição para se tornar governador do Rio de Janeiro, no entanto foi derrotado por Moreira Franco. Já em 1996, foi eleito vereador na cidade do Rio. Depois de não ter conseguido vencer a reeleição em 2000, tornou-se vereador em São Paulo em 2004.

O cantor se envolveu em polêmicas durante sua trajetória política por ser considerado alguém que falava sem rodeios. Franco e direto, Timóteo não guardava suas palavras. Além disso, sua carreira ficou marcada pelo vínculo que criou tanto com a esquerda quanto com a direita. Em sua história na Câmara dos Deputados na década de 80, ele se associava ao discurso de apoio a classe trabalhadora, porém, ao mesmo tempo mostrava afinidade com o conservadorismo por defender a ditadura militar (1964–1985).

Em homenagem ao cantor, a Câmara dos Vereadores do Rio, aprovou no dia 5 de abril o projeto de lei, criado por César Maia, que dá o nome de Agnaldo Timóteo ao calçadão localizado em frente ao estádio Nilton Santos.

Porém, o coração apaixonado do artista tinha espaço para outra paixão além da música, o time de futebol Botafogo. Mais do que um torcedor fanático, o cantor apoiava financeiramente o clube, principalmente investindo nas categorias de base. Sempre muito intenso, Agnaldo não deixava de estar presente nas partidas do time. Em 1984, durante o jogo entre Botafogo e Operário Várzea Grandense, Timóteo invadiu o campo para reclamar com os jogadores devido ao baixo desempenho na partida.

Em 2017, o diretor Nelson Hoineff produziu uma cinebiografia de Agnaldo Timóteo que conta sua jornada na música e na política. “Eu, pecador”, título do documentário, tornou-se conhecido, pois na obra, o cantor relatou ter tido relação com outros homens.

Romântico, ilustre torcedor e, para alguns um truculento na política, a voz brega de Timóteo conquistou o Brasil e deixou um legado que não será apagado na história da música brasileira.


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