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28/05/2021 às 09h17min - Atualizada em 28/05/2021 às 08h50min

Agravado pela pandemia, Brasil volta ao mapa da fome

“Percebi que é horrível ter só o ar dentro do estômago” – Escritos de Carolina e a fome no Brasil de 2021

Adélia Lima Sá - Editado por Andrieli Torres
El País ; Globo News ; BBC ; Livro: Quarto de Despejo
Foto: Reprodução/Getty Images

Acordar sem ter o mínimo na mesa e dormir com o excesso de fome do dia, é angustiante, revoltante e uma realidade do Brasil. Desde 2014 que o país não se encontrava mais no mapa da fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas. Mas desde 2018, os passos já caminhados fizeram com que a população brasileira retornasse a essa estatística tão triste e reflexo de descaso dos representantes do povo. Com a pandemia da Covid-19 a realidade se agravou, aumentando o número de desempregos e por consequência, o índice de pessoas sem condições para ter acesso ao básico.

Pode até parecer que este cenário é inédito ou se restringe há poucos anos, mas a escritora negra e favelada, Carolina Maria de Jesus, em 1960, já descrevia essas vivências em seu diário, que tornou-se, inclusive, um dos maiores livros da literatura brasileira contemporânea, por sua atemporalidade e veemência dos fatos como uma mulher, negra e favelada no Brasil. Na obra, a escritora retrata seus dias como catadora de lixo na grande São Paulo para conseguir o mínimo para os seus 3 filhos, em uma de suas páginas ela escreve:


"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só o ar dentro do estômago."


 

1960 ou 2021?

Facilmente os escritos de Carolina podem ser encarados como se fossem escritos neste ano, mais especificamente, nestes últimos dois meses. Pois os seus relatos se encaixam com o cenário atual do país.

No período em que a escritora viveu e relatou em seu diário, o Brasil se encontrava em pleno crescimento da industrialização, o número de brasileiros era menor, visto que hoje são mais de 211 milhões de habitantes e na época eram de 52 milhões. Apesar dessas diferenças apontadas, tanto em 1960, quanto em 2021, a inflação aumenta na mesma proporção que o desemprego cresce. O que resulta em insegurança alimentar para uma boa parte da população, pois de acordo com um estudo publicado pela Universidade Livre de Berlim
, na Alemanha, 15% dos lares brasileiros se encontram em situação grave neste cenário alimentar.

Em matéria do El País, publicada essa semana, expõe que unidades de saúde em Brasília identificaram aumento de pessoas em busca dos centros de saúde com sintomas que acreditam ser doença, mas que, na verdade, é apenas fome. Essa identificação só comprava o quanto a questão do não acesso a alimentação está assolando inúmeras famílias no país, ainda mais neste cenário atual.
 
O único remédio eficaz para fome é o fácil acesso a alimentação saudável, os caminhos para a realização desta devem estar ligados com as políticas públicas do governo. Apesar de existir clubes e instituições que ajudam diariamente esse público, quem de fato possui este dever é o poder público, representantes políticos.

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