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02/07/2021 às 07h56min - Atualizada em 02/07/2021 às 06h58min

Um resgate humanitário e social através do olhar da educação

Em “A vida que ninguém vê” Eliane Brum conta a história de um homem chamado Israel, ele foi salvo por meio do ensino

Vitoria Fontes - Editado por Andrieli Torres
Alunos da Educação para Jovens e Adultos (EJA) | Foto: Reprodução/Facebook
A educação é o ponto de partida para todas as outras coisas, é através dela que nos formamos cidadãos e consequentemente constituímos nosso senso comum, afinal, a comunidade é estruturada por indivíduos capazes de se construírem e formarem uns aos outros com a contribuição de ferramentas.
 
O PODER DE UM OLHAR

Em “A vida que ninguém vê” Eliane Brum nos conta sobre a história de um homem chamado Israel.

“Esta é a história de um olhar. Um olhar que enxerga. E por enxergar, reconhece. E por reconhecer, salva.”

Aos 29 anos, Israel era o retrato daquela cidade que foi construída por mãos de operários, estes que, após um período ficaram desempregados e assim tornaram-se invisíveis dentro do local que foi estruturado com o próprio suor.

Veio de uma família muito humilde, sua mãe havia falecido, então, moravam com o pai, irmã e madrasta em uma casa que beirava a miséria e não tinha espírito de lar.

Em uma de suas caminhadas pelas ruas da vila onde morava, Israel conheceu Lucas, um garotinho de apenas 9 anos que ao cruzarem os olhares lhe retribuiu com um sorriso. Após esse gesto, Israel teve uma sensação estranha, sentiu-se acolhido de certa forma e decidiu seguir o garoto pelo caminho, seguiu em busca de sentir novamente o acolhimento, o afago, o reconhecimento pelo olhar do outro até que se deparou com o portão de entrada de uma escola. Em uma de suas idas até o portão, o olhar de Israel colidiu com o de Eliane que era professora e aquela troca, aquele momento foi mágico, um se enxergou no outro, Israel viu o reflexo de um homem diferente daquele que as pessoas de sua vila viam, ali, Israel deixava de ser o retrato da cidade onde morava e tornara-se um homem.

Os dias foram passando e cada ida até o portão era um passo à frente, cada dia mais perto da sala de aula e mais longe das calçadas, até que, quando se deu conta, Israel estava dentro da escola, assistindo aquele cenário através da janela da sala de aula, local esse que nunca havia frequentado antes. O encontro foi lindo, mágico, o menino acompanhava a aula pelo lado de fora e para além disso era participativo, até que finalmente, um belo dia resolveu fincar seus dois pés no interior daquela sala e se incluir. Adentrar à sala de aula foi um gesto que simbolizava que o encontro de olhares com a professora Eliane resultou em esperança.

Logo, toda a sala de aula compartilhou olhares com aquele homem, uma sala repleta de crianças estava acolhendo uma pessoa que não era acolhida em lugar nenhum. Aquelas crianças também enxergaram Israel, também colaboraram para seu resgate, para a sensação de finalmente ser visto, reconhecido, reconhecido como indivíduo.

Israel sempre se viu sozinho, depois do momento em que fincou seus dois pés naquela sala de aula, ele já não era apenas um, mas sim a somatória de todos aqueles que o enxergavam e queriam de alguma forma contribuir para a sua construção. Israel tornou o resultado do impacto que a professora e seus colegas de classe lhe proporcionaram.

Um homem de 29 anos foi salvo e reiniciou sua vida através da educação.

UMA NARRATIVA REAL

Engana-se quem pensa que Israel foi um caso isolado, o Estado de São Paulo é recheado de pessoas nessa mesma situação, são indivíduos considerados invisíveis e quando visíveis, são o retrato do desprezo.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 52,6% da população acima de 25 anos não possui a educação básica completa (Fundamental I e II voltado para crianças entre 6 e 14 anos).

O IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica) foi criado com o objetivo de mensurar a qualidade do aprendizado nacional fazendo um monitoramento por meio da população através de dados concretos, assim, tendo a oportunidade de estabelecer melhorias dentro do Ensino.

O Estado de São Paulo, em sua rede Estadual da Educação encontra-se abaixo da média esperada, assim, a maioria de suas cidades possuem seu ensino classificado como inadequado.

Com base em dados cadastrados no Portal do Inep em 2019:
  • 6,6% das instituições de educação atingiram, cresceram e se mantiveram dentro da média estipulado;
  • 24,9% atingiram a meta e consequentemente aumentaram o índice do IDEB;
  • 53,4% estão em estado de atenção e 15,1% encontram-se em alerta já que não atingirem a meta.
Esses dados refletem a seguinte circunstância: A cada 100 alunos, 4 não são aprovados.

UMA INICIATIVA GOVERNAMENTAL EM PRÓ DO RESGATE EDUCACIONAL

A Educação de Jovens e Adultos mais conhecida como EJA e supletivo, é um programa destinado à população que não cumpriu, abandonou e até mesmo não obteve acesso ao ensino educacional dentro da faixa etária adequada, assim, possibilitando que jovens e adultos retomem ou em alguns casos iniciem os estudos.

O Governo Federal estabeleceu o EJA com a finalidade de viabilizar o acesso da recuperação da educação de jovens e adultos à rede escolar, assim, performando uma inclusão social.
 
O EJA é dividido em 2 partes, sendo:
  • Ensino Fundamental: 1° ao 9° ano tenho no máximo 2 anos de duração e sendo destinado à jovens a partir dos 15 anos de idade.
  • Ensino Médio: Tendo duração de 18 meses, os alunos são preparados para prestar vestibular, Enem e ingressar no Ensino Superior, destinado à pessoas com mais de 18 anos.
 
Ambas as modalidades podem ser cursadas tanto como ensino presencial quando à distância, assim, trazendo uma maior flexibilidade para que todos que estejam inseridos consigam completar este ciclo
 
Após cursar a modalidade necessária, o aluno é encaminhado para realizar um prova aplicada pelas Secretarias Municipais ou Estaduais de Educação, assim, sendo concedido a certificação do curso.
 

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