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03/09/2023 às 20h58min - Atualizada em 28/08/2023 às 18h21min

Representativa e com cara de novela, ‘Vai na Fé’ se consagra na teledramaturgia brasileira

Folhetim se tornou o maior faturamento da Globo na faixa das sete, de acordo com a Folha de S. Paulo

Felipe Nunes - revisado por Anna Sá
O casamento de Ben (Samuel de Assis) e Sol (Sheron Menezzes) contou com bençãos de diferentes religiões (Foto: Reprodução/ Victor Pollak/Gshow)

Personagens profundos, narrativas potentes, temas essenciais e sensibilidade na hora de contar histórias tão diversas. É assim que Rosane Svartman se consagrou na história da teledramaturgia brasileira com “Vai na Fé”, última novela das sete, que terminou no dia 11 de agosto e foi substituída por “Fuzuê”, do estreante Gustavo Reiz, no dia 14 do mesmo mês.

 

A história de Sol (Sheron Menezzes), pode ser chamada, com maior veracidade, da história das ‘Sols’. O plano de fundo de uma mãe cozinheira, que sustenta a família sozinha, sem perder a fé, com sorriso no rosto e determinação até nos dias mais nublados, é o retrato de milhares de brasileiras que acordam todos os dias e vão na fé. Uma delas é Maria de Fátima, onde eu conto melhor a história aqui.

 

De volta à novela, o maior acerto, sem dúvida alguma, foi a proximidade das tramas com o cotidiano dos espectadores, não com a intenção de uma retratação completamente fiel da realidade, afinal é um produto ficcional, porém com a sensibilidade de mesclar o real e o imaginário. Sentar no sofá e se ver na TV - foi isso que “Vai na Fé” entregou aos fãs.

 

Racismo, machismo, intolerância religiosa, adoção, violência contra à mulher e etarismo são alguns dos eixos temáticos discorridos por Svartman e sua equipe de colaboradores: Sabrina Rosa, Fabrício Santiago, Renata Sofia, Mário Viana, Renata Corrêa e Pedro Alvarenga. Ao longo de 179 capítulos, eles discutiram, com maestria, temas super importantes para a sociedade.


Personagens bem construídos

 

A alternância entre arcos foi um trunfo. A cada semana, a narrativa se dividia em subtramas, que focavam em determinados personagens e temas, os discutiam e concluíam. Com isso, Kate (Clara Moneke), Lumiar (Carolina Dieckmann), Clara (Regiane Alves), Wilma (Renata Sorrah) e Dora (Claudia Ohana) se destacaram, ainda que não fossem as protagonistas.

 

Clara Moneke foi uma grata revelação. Já na primeira experiência com um formato tão intenso quanto novelas, a atriz mostrou a que veio. Passeou com tranquilidade e muito, muito mesmo, carisma pelas emoções de Kate. Contudo, o destaque foi a veia cômica da personagem, com sequências interpretadas de forma exemplar.

 

O mesmo aconteceu com Carolina Dieckmann, que depois da famosa cena em que Camila, de “Laços de Família”, raspa os cabelos, demorou a vivenciar arcos de tamanha carga dramática como os de Lumiar, de “Vai na Fé”. Da emocionante cena em que perdeu a mãe, Dora (Claudia Ohana), aos abusos que sofreu de Theo (Emilio Dantas), a intérprete entregou diversas camadas na construção da personagem.
 

 

Na pele do criminoso Theo, Emilio Dantas fez o público odiar um vilão como há tempos não acontecia na faixa das sete, conhecida pelo caráter cômico e leve das narrativas desse horário. Todas as cenas do personagem transmitiam ódio, repulsa, nojo e desprezo em quem assistia a novela e, além do texto, isso também é mérito do ator.

 

O oposto aconteceu com Sol e Ben, que, diferentemente dos casais de amor à primeira vista, tiveram um romance construído com profundidade, com um recurso raro nos folhetins: os flashbacks, e transmitiram amor, carinho e bondade. De modo geral, é comum que os mocinhos comecem apaixonados, ou se encantem já nos primeiros capítulos - regra que foi quebrada em “Vai na Fé”.


Com cara de novela, representativa  e plural nas temáticas abordadas, “Vai na Fé” se consagrou na história da teledramaturgia brasileira. Para a faixa das sete, simboliza uma ruptura com o que era visto antes de sua chegada e para o futuro escancara que narrativas que se aproximam do público podem, sim, integrar as tramas, sem que a identidade do gênero novelístico seja apagada.

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